Uma lição amarga sobre pensão alimentícia
- Fernando Pansera
- 17 de abr.
- 4 min de leitura

O aroma de café barato pairava no ar. Na pequena cozinha, Denise relia a mensagem de sms no celular pela décima vez. A promessa de Luciano, escrita há anos, produzia um misto de esperança e desilusão: "Eu vou cuidar do Miguel, Denise. Confia em mim."
Ela confiou. Talvez não na promessa do pai de seu filho, mas na ilusão de que um dia ele pudesse voltar para ela e amá-la novamente.
Bebendo aquele café forte, Denise relembrava o momento em que tinha aceitado a proposta de Luciano: "Acabou entre nós, mas não vou deixar meu filho passar necessidade. Com 600 reais você compra fraldas e comida pro Miguel, então, como é meio a meio, vou pagar 300 reais por mês para você."
Embora Denise tivesse reclamado do baixo valor, ela acabou aceitando, pois tinha a ilusão de que terminar a relação amigavelmente seria bom para o filho. Afinal, dizem que os filhos sofrem quando os pais brigam. Além disso, a possibilidade de trocar mensagens com Luciano representava uma porta aberta para que ele pudesse voltar, um dia, e recomeçar aquele romance tão lindo que eles tinham vivido.
Uma doce ilusão que ela alimentou em segredo, enquanto forçava um sorriso para o espelho, tentando convencer a si mesma de que ainda havia uma chance.
O tempo se passou e Luciano não voltou. Os míseros trezentos reais mal cobriam as necessidades básicas do menino, mas ela engolia a frustração por orgulho, mordendo os lábios para não implorar por mais.
Cada brinquedo novo que Miguel queria comprar, cada vez que seu filho falava "mãe, eu queria tanto..." Denise sentia uma punhalada silenciosa em seu peito.
Ela se desdobrava em trabalhos extras sacrificando o pouco tempo que tinha com o filho, tudo para suprir a falta do apoio financeiro que precisava. Ela passou a sentir raiva de Luciano. No entanto, a cada mensagem cordial daquele que um dia foi seu homem, a cada breve encontro para ver Miguel, a velha chama da paixão tremulava, alimentada por migalhas de atenção e a vã esperança de um retorno improvável.
Então, uma notícia chegou como um raio, trazida por uma amiga com olhos cheios de pena e um tom de voz hesitante. Luciano tinha outro filho, Bruno, com uma mulher chamada Samanta. E a pensão que ele pagava para Bruno não era os míseros trocados que Denise recebia para Miguel. Eram três mil reais. Três mil! A quantia fez o sangue de Denise gelar e, em seguida, ferver. A injustiça a atingiu como um soco no estômago. Seu filho, o primogênito, o fruto do primeiro amor, valia menos? Era menos importante?
A raiva explodiu em um telefonema carregado de acusações e lágrimas. A voz de Denise, antes tão mansa ao falar com Luciano, trovejava do outro lado da linha, destilando a amargura de anos de sacrifício e a humilhação de se sentir insignificante. Luciano, pego de surpresa pela fúria de Denise, tentou se defender com desculpas esfarrapadas, mas o medo de um processo iminente o fez ceder, prometendo um aumento espontâneo para quinhentos reais.
Quinhentos. Apenas duzentos reais a mais. A quantia era irrisória diante da disparidade gritante mas, naquele momento de fragilidade emocional, a velha ilusão sussurrou em seus ouvidos. As palavras de Luciano, carregadas de um fingido tom de dificuldade financeira, encontraram terreno fértil no coração daquela mulher solitária, carente e ainda apaixonada.
Ela queria acreditar. Precisava acreditar que ele não era o monstro egoísta que seus atos demonstravam. A esperança, mesmo tênue e irracional, era um analgésico para a dor latejante da injustiça.
Ela aceitou a proposta, engolindo a revolta, adiando mais uma vez a busca por seus direitos, presa na teia pegajosa de um amor não correspondido e de falsas promessas que a mantinham refém de uma humilhação silenciosa.
O futuro de Miguel, mais uma vez, ficava à mercê da boa vontade – ou da falta dela – de um homem que parecia valorizar mais o filho de um breve caso do que o fruto do seu primeiro amor.
Mas quem era a tal Samanta? Denise precisava saber quem era aquela mulher e porque o filho dela valia mais que o seu.
Não foi difícil descobrir. Denise obteve o número de telefone da rival e discou com os dedos hesitantes.
A voz do outro lado da linha, surpreendentemente calma e receptiva, acalmou a raiva que consumia Denise.
Samanta contou que teve um envolvimento romântico muito breve com Luciano, de poucos meses, e engravidou. A promessa de Luciano foi parecida: quatrocentos reais por mês, um "acordo de cavalheiros" para evitar "complicações e gastos desnecessários".
Samanta achou melhor consultar um advogado para se informar sobre seus direitos.
O esclarecimento do advogado abriu seus olhos para um direito que Denise desconhecia: os alimentos gravídicos, um amparo financeiro durante a gestação, visando o bem-estar tanto da mãe quanto do bebê. A decisão de Samanta foi firme: acionar a justiça.
Luciano foi obrigado a arcar com os alimentos gravídicos e, após o nascimento de Bruno, condenado a pagar uma pensão alimentícia mensal no valor de três mil reais. A necessidade de Bruno, somada à comprovada capacidade financeira de Luciano, embasou o valor determinado pelo juiz.
A curiosidade de Samanta, então, voltou-se para a outra ponta da história. "E quanto o Luciano paga para você pelo Miguel?" A resposta de Denise, um murmúrio hesitante, expôs a cruel disparidade: "trezentos reais", com uma promessa recente de um aumento para quinhentos.
Samanta não conseguiu disfarçar a incredulidade: "E como você consegue criar seu filho sozinha com esse valor? Você não o processou?"
Um "não" seco e doloroso escapou dos lábios de Denise.
"Mas por quê não?", insistiu Samanta, buscando uma razão lógica para tamanha abnegação.
Denise ficou em silêncio, tentando encontrar uma resposta. Um nó se formou em sua garganta, impedindo as palavras.
"Samanta, eu deixei uma panela no fogão e vou precisar desligar. Outro dia conversamos mais. Um abraço."
Com essa desculpa, despediu-se e desligou o telefone. Foi até o quarto e se deitou na cama. Precisava da fronha para secar as lágrimas que escorriam daqueles olhos que tantas vezes choraram ao ver seu filho passar necessidades...



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